• 21 de November de 2024


Estudante baiana de 17 anos cria prótese dentária tendo casca de ovo como matéria-prima

 Estudante baiana de 17 anos cria prótese dentária tendo casca de ovo como matéria-prima

Educa Mais Brasil

Foi quando percebeu que a sua curiosidade e paixão pela área de saúde poderiam ajudar as pessoas com menor poder aquisitivo que a estudante baiana Gabriela Moraes de Santana, 17 anos, passou a prestar atenção ao seu redor unindo aspectos da sua realidade ao aprendizado na Escola SESI Djalma Pessoa, no bairro de Piatã, em Salvador, onde cursa o Ensino Médio. O resultado foi a criação do projeto científico sobre próteses dentárias criadas a partir da substância da casca do ovo de galinha.

O projeto, denominado de Pônticos Dentários Confeccionados com Hidroxiapatita Produzida a Partir da Casca de Ovo da Gallus Gallus Domesticus, foi desenvolvido como projeto de Iniciação Científica e tem como objetivo baratear o custo das próteses dentárias. “Teve um momento da minha vida que eu comia muito ovo e, então, parei para pensar ‘não é possível que o Brasil seja um dos maiores produtores de ovo do mundo e que a gente coma e descarte tanto as cascas. Será que elas não têm utilidade de fato?’, questionava-se a estudante que começou a pensar na possibilidade da pesquisa em casa mesmo.

A pesquisa rendeu para Gabriela conhecimentos que extrapolam a sala de aula e o primeiro lugar no Prêmio Jovem Cientistas 2019, realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além da participação entre as finalistas na 18ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). “Quando você vai para a Feira, seja como ouvinte ou como participante, é lindo, porque você vê que o jovem é capaz de fazer ciência e, muitas vezes, a gente duvida do nosso potencial, por sermos novos demais. Eu via projetos incríveis de pessoas que estavam ali fazendo acontecer, projetos que vêm para agregar e trazer um impacto muito grande na vida das pessoas. Eu sou extremamente grata por ter participado e estar participando até hoje”, revela.

Com uma bagagem para lá de diferenciada, a estudante Gabriela já tem planos definidos: ingressar no curso de Biomedicina e conseguir aprofundar seu projeto de pesquisa na faculdade. Ao olhar para trás, ela hoje tem uma certeza ainda maior do que quer para o futuro: “aquela menina que brincava com os produtos de limpeza de casa está conseguindo’”, vibra.

PROCESSO

Orientador de Gabriela, o professor de Ciências Biológicas e de Iniciação Cientifica, Marcelo Barreto, explica que um dos primeiros passos dos projetos de iniciação científica é entender as demandas que os próprios alunos trazem a partir das suas realidades. “O aluno vem para a linha de pesquisa e começamos a trabalhar qual problemática ele vivencia para que a gente consiga, a partir da sua realidade, ajudá-lo a desenvolver ciência”.

A primeira descoberta: a casca do ovo de galinha tem substâncias semelhantes ao dente humano. “Quando Gabriela trouxe algo que ela vivenciava, eu e um professor de química pesquisamos sobre o assunto e conseguimos fazer a extração da substância da matéria-prima. Porém, tínhamos um problema: ao extrairmos a hidroxoapatita da casca do ovo, ela ficava parecendo giz, porosa e não conseguíamos fazer que ela tivesse resistência para ser utilizada na boca”, detalha o professor.

Com a ajuda do corpo docente de Engenharia de Produção do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), professores e aluna conseguiram, ao longo dos últimos dois anos, superar os desafios que surgiram durante o processo. “Eles sugeriram que fizéssemos um biopolímero com a hidroxoapatita, misturando o ácido cítrico e outra substância, para conseguirmos um biopolímero que não derretesse na boca em contato com o ácido e tivesse uma resistência muito grande. Assim, conseguimos ter o objeto, a estrutura”, revela Barreto.

O professor Marcelo Barreto ressalta a importância de que alunos do Ensino Médio tenham acesso à ciência através das instituições de ensino. “Eu era aquele aluno que não era nem muito bom, nem muito ruim. Quando me formei professor, queria atingir todos os estudantes, os que precisavam de uma didática diferenciada, como por exemplo, a pesquisa, a ciência. Quando vejo um aluno meu saindo da escola com a experiência que eu só tive na universidade, com bagagem, fico feliz demais”, comemora.

Joe Improta