• 19 de April de 2025

Tradição no Festival de Arembepe, Baile dos Coroas promove conexão de gerações e histórias inspiradoras

 Tradição no Festival de Arembepe, Baile dos Coroas promove conexão de gerações e histórias inspiradoras

A última noite do Festival de Arembepe, realizada nesta segunda-feira (31), está sendo marcada pela conexão musical ‘à moda antiga’ do tradicional Baile dos Coroas.

Moradores, foliões e turistas ocupam a Praça Tia Deja (antiga dos Coqueiros) para celebrar mais uma edição do tradicional evento, responsável por movimentar o litoral norte e encerrar o ciclo de festas populares na Bahia.

Considerado um marco na programação do festival, o Baile dos Coroas arrasta gerações, fomentando a valorização da seresta, gênero musical que deriva das saudosistas serenatas e foi propagado no Brasil por volta do século XX, com ascensão nas regiões Nordeste e Sudeste. Nesse clima de “culto ao amor”, o baile já impulsionou diversos encontros despretensiosos mas, também, embala a vida amorosa de muitos seresteiros.

É o caso de Luciana de Paula, 46 anos e Wilton Luís, 53 anos. Juntos há cerca de 33 anos, o casal é apaixonado pelo Baile dos Coroas. Eles afirmam que a cada edição, enquanto estão curtindo as apresentações, a troca de olhares do primeiro encontro é rememorada e, assim, renovam os votos embalados pela trilha sonora poética e inspiradora.

“Estamos aqui todos os anos. Nossa presença no Baile dos Coroas tem a mesma quantidade de anos que estamos juntos, 33 anos, desde quando nem tinha essa estrutura que tem hoje. Nós não nos conhecemos aqui no baile, mas esse evento é de extrema importância na nossa história, pois a cada ano renovamos nosso amor dançando, com aquela magia da primeira vez que trocamos os primeiros olhares”, revela Wilton.

Luciana, por sua vez, reforça a fala do marido. “Essa festa é muito especial mesmo. Não é exagero de Wilton, não. Esse baile faz parte da nossa história de amor. É muito bom estar em um lugar que exala amor, poder curtir com tranquilidade, sem brigas. Esse ano então, com atrações que trazem o melhor da seresta. Que seja sempre assim, e vida longa ao Baile dos Coroas”, acrescenta a seresteira.

A potência do baile atrai casais apaixonados de diversas partes da Bahia. Ju Castro, 50 anos e Aloísio Batista, 72 anos, vieram da Ilha de Itaparica para prestigiar mais uma edição do evento. Unidos há 23 anos, eles frequentam o evento há, pelo menos, oito.

“Depois que a gente descobriu esse evento não deixamos de prestigiar em nenhum ano. Não conto esforços para estar aqui no baile. Arrasto meu coroa para dançar e sair um pouco da correria do dia a dia, apreciar uma boa música é sempre muito bom”, conta Ju.

O Baile dos Coroas também é marcado por histórias de forte expressão cultural. Nascida no Rio de Janeiro e baiana de coração, Gal do Beco, consolidou o seu nome artístico através de uma barraca que ela tinha na Avenida Vasco da Gama. Sem pretensão de se tornar cantora, a vida mudou os rumos da artista. Hoje, ela se tornou um símbolo do samba baiano. Apaixonada pelo Baile dos Coroas e por Arembepe, ela enfatiza o desejo de um dia cantar no palco do evento.

“Perdi as contas de quantas vezes estive aqui no Baile dos Coroas. Mas, preciso confessar, antes vinha para beber e tagarelar. Esse ano, depois que vi a programação, prometi para mim mesma que viria para dançar e curtir uma boa seresta. Agora estou aqui, sem hora para ir embora e apaixonada, cada vez mais, por Camaçari, por toda a potência cultural que essa cidade representa. Quero ainda parabenizar por essa linda festa, por não deixarem a tradição morrer”, endossa Gal.

Com características mais serenas, o baile vem se tornando uma espécie de “legado cultural”, cuja paixão é alimentada entre pais e filhos.

Marilene Paiva Portela, 68 anos, carrega a energia do evento há muitos anos. Atualmente, morando no bairro de Itapuã, em Salvador, ela começou a frequentar o evento para vender acarajé. Entre uma venda e outra, aproveitava para dançar. Hoje, aposentada, a soteropolitana se concentra em aproveitar as mais de 8 horas de festividade.

“Se for falar do amor que tenho por essa festa, não é possível mensurar. Isso aqui é parte da minha história, da minha vida. Vivi muita coisa boa aqui. Tenho quatro filhos e, em alguma oportunidade, sempre os trazia para que eles experimentassem também essa energia bacana. A gente, baiano, é sortudo por poder ter eventos assim, que resgatam o passado”, disse Marilene, esbanjando sorrisos com direito a dança coreografada.

Mas, nem só de seresteiros veteranos é formado o baile. Existem aqueles que vivenciam o evento pela primeira vez. Ana Paula, 61 anos e Fleury Tavares, 65 anos, exemplificam esse público. Mesmo após um problema no joelho, que motivou, por determinado período, o uso de uma cadeira de rodas, a moradora de Abrantes decidiu conhecer a festividade.

“Disse para meu esposo que iria, mesmo com as limitações atuais. Não tinha motivos para adiar e ter que esperar mais um ano. Estou muito feliz em ter insistido. A festa está linda, a música é de qualidade. É uma oportunidade de voltar ao passado de uma forma maravilhosa, com músicas que têm letras que, com certeza, embalaram e seguem embalando a história de muitos casais, como eu e Fleury”, celebra Ana Paula.

Nessa edição, o público foi embalado pela sonoridade envolvente de quatro potências da seresta: Fernandão, Silva Filho – O Gigante da Seresta, Brasilian Boys e Violão de Ouro.

Com o tema “Conectado com a Alegria”, o Festival de Arembepe é realizado pela administração municipal, por meio da Secretaria de Governo (Segov), através da Coordenação de Eventos.

Laís Andrade